Quatorze conferências internacionais compuseram a programação científica do XXXVI Congresso Brasileiro de Psiquiatria - CBP. Palestrantes nacionais e internacionais apresentaram aos congressistas os resultados de suas pesquisas nas áreas de psiquiatria e saúde mental, compartilhando seus conhecimentos tanto em pesquisa como na prática clínica.
Algumas das conferências com maior número de participantes abordaram temas como diabo, estigma, o futuro da psiquiatria, genética e igualdade. A quinta-feira, 18 de outubro, foi o dia com o maior número de conferências internacionais realizadas na programação científica.
Na Conferência 5, que tratou “Da tentação à possessão diabólica. Aspectos culturais, religiosos e psíquicos”, o Dr. Alberto Velasco abordou de modo didático a relação entre o diabo, a tentação e o mito. Secretário Geral da Coordenação França-América Latina de Psiquiatria e Saúde Mental, Dr. Velasco contou que o interesse pelo tema surgiu ao recebeu o telefonema de um exorcista em Paris.
“As pessoas pediam ajuda ao exorcista. Um sacerdote dirá que o diabo muda de forma e essa é uma das grandes vantagens do diabo. Você não consegue vê-lo. Freud falava muito do caráter demoníaco do diabo, parece que é uma forma de nos darmos conta de que a pulsão, como uma repressão, faz com que vivamos o inferno. O diabo é uma testemunha do inconsciente”, explicou.
Estigma e futuro
O estigma dos transtornos mentais foi abordado pelo Dr. Wulf Rössler durante a Conferência 13. Professor emérito da Universidade de Zurique, ele ilustrou sua palestra com os filmes: ‘Um estranho no ninho’, ‘Uma mente brilhante’ e ‘Temple Grandin’. Para reduzir o estigma, garantiu, vale investir em campanhas de conscientização.
Já o futuro da psiquiatria foi o tema da Conferência 15. Afzal Javed, consultor psiquiatra do sistema nacional de saúde do Reino Unido (NHS). O especialista listou alguns dos desafios da profissão e traçou um quadro assustador a respeito do futuro das doenças psiquiátricas.
“Hoje, de 20% a 30% da população global tem uma doença mental. Destes, de 60% a 70% não tem acesso algum a tratamento ou o tratamento é insuficiente. E isso também acontece em países desenvolvidos”, lamentou.
Qualificação
O tema “Treinamento em psiquiatria ao redor do mundo – um levantamento global e recomendações da WPA” foi abordado pelo Dr. Roger Man King, Chefe do Departamento de Psiquiatria do Hospital Kowloon, na China. Dentre os dados apresentados, alguns chamaram atenção dos participantes como o fato de que apenas 3% da formação das universidades de medicina são direcionados para a educação em psiquiatria.
As promessas da genética para a psiquiatria clínica foi o tema do conferencista Thomas G. Schulze, que lidera o Instituto de Psiquiatria Fenomenológica e Genética na Universidade de Munique e também é professor na Universidade Johns Hopkins.
“Temos mais de 250 genes identificados pra esquizofrenia, 50 para bipolaridade e 40 pra depressão. Existem variações muito mais raras que sabemos que estão implicados em incapacidades intelectuais e autismo e também para transtornos afetivos. Estas variações raras têm alto risco genético e precisamos seguir com os estudos”, frisou.
Na última conferência do dia, o Dr. Kevan Wylie, presidente da Federação Europeia de Sexologia (EFS), abordou o tema “Relacionamentos, envelhecimento e igualdade: falando sobre direitos sexuais e humanos para pessoas mais velhas”.
“Mais de 80% de homens de todas as idades consideram a relação sexual satisfatória como muito importante para sua qualidade de vida e contemplar os direitos sexuais dos mais velhos, incluindo os LGBTs, é muito importante”, pontuou.
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